domingo, 17 de janeiro de 2016

O Homem fracassado




Com toda delicadeza do olhar ele via a chuva cair. Já passava das 15:30, parado na janela do segundo andar, olhava a cidade que era imersa pela chuva, em um tom cinza e solitária era pintada. O apartamento estava frio e quieto, no som uma música que lhe era tão familiar, mas parecia-lhe tão distante. A janela era a tela que projetava o filme triste da própria vida. Era impossível desvencilhar os pensamentos do roteiro mórbido e trágico. Frustrava o desejo de esquecer, esquecer que outrora vivera que seus fracassos tinham-no trazido até esse momento, até a essa cidade que se orgulhava em ser-lhe estranha. Angústia e solidão misturadas com as lágrimas de um homem só e fracassado o invadia com tanta força que teve medo. Ficou ali parado, debruçado a janela o restante da tarde, de súbito teve desejos, de pular, de fumar, de sair desvairado na chuva, porém manteve-se de pé. Era preciso ficar, não sabia por que, e a única maneira de saber era vivendo. Do outro lado da tela, pessoas passavam cada uma com sua pressa, com seus pensamentos e desejos, os quais nunca ninguém virá saber. E esse vai e vem trouxe-o ao ínfimo de vida que ainda lhe restara. Nas lembranças uma leve saudade trágica do que havia deixado para trás. A possibilidade ter tido filhos, de ter firmado com aquele rapaz que tantas noites mal dormidas. Ou simplesmente de ter ido morar no Rio, ou nunca ter saído da aldeia. O apartamento continuava vazio, mas era impossível que não estivesse ou que por algum acaso viesse a ser habitado por outros. Nunca teve muitos amigos, não que não os desejassem, mas definitivamente não tinha vocação para as pessoas. As pessoas lhe cansavam e lhe custava muito as tolerar, todas as pessoas estavam preocupadas em ser aquilo que elas jamais seriam, e isso era tão vulgar. O crepúsculo se anunciava, não havia mais lugar para a tristeza crepuscular, não, era impossível mais tristeza... chorar? O que haveria nas lágrimas que já não estivessem naquele apartamento que agora era de uma estranheza impossível de explicar, tudo parecia derreter-se, tornar-se chuva, escorrer pelos ralos, os livros desciam das prateleiras como bicas de água, contorcia-se de dor, pois os livros era a única riqueza que se orgulhava de ter. Não! Como seria possível? Agora com olhos voltados para dentro de si podia vê os quadros derreter-se nas paredes de suas entranhas, eram parte de um corpo metafisico que não lhe pertencia e que nunca lhe pertencera, de súbito caiu no chão frio da sala. Ainda estava em seu apartamento? Aquela dúvida lhe corroera, teve medo de abrir os olhos, já não havia mais música, era tomado por um silêncio frio, contorceu mais uma vez, recusava a ideia de ainda existir. Ao abrir olhos ele deparou-se consigo mesmo. O apartamento estava como sempre esteve, e aquilo era a fotografia do que ele se tornara. E em que?             


João 
*Sem correção ortográfica
**Imaagem Livre de internet