segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Carta






“Saudades é solidão acompanhada”

            ...Faz um dia nublado e quente, típico dos dias de verão. Estes dias tem o poder de me deixar triste e introspectivo... E não obstante é domingo, e isso é gravíssimo.
            Não saberei dizer exatamente qual foi o dia em que, pousei meus olhos nos seus olhos, foi por primeiro o que me encantou em você. Consegui em segundos ou milésimos de tempo vislumbrar a eternidade. Ali me sentir feliz!
            Como a canção eu pensei, “ainda bem que agora encontrei você”. Mas, os dias passaram como tinham que ser, e com os dias e minhas confusões você também passou, encontrou morada em outro coração. Eu não sei me comportar diante do amor, e assim foi com você...
            Não chegamos a ter uma história, (sinto saudades disso) quem sabe estórias? Mais confusas que eu mesmo. Porém, a poesia de seus olhos que me transportou à eternidade aquele dia não têm me deixado em paz, por isso, a epígrafe que encabeça essa carta ridícula, como todas as cartas de amor devem ser, como nos lembra o Poeta.
            Aquele dia no bar foi um dia de sensações antagônicas, feliz e triste, Apolo e Dionísio. A felicidade se dava por reencontra-lo depois de tanto tempo, depois de uma viagem abençoada pelos Deuses, voltava depois de tanta beleza e com a esperança nesse reencontro. No entanto Pandora brincou comigo, entre uma cerveja e uma música de Chico Buarque, descobri que não era o homem que esperava para sua vida. Ele teria que ser rico, poxa! Ouvir isso foi de perder o caminho, como diz o dito popular. Enquanto você falava eu fazia os cálculos de minhas riquezas, e ao fim da noite tinha o triste saldo de minhas finanças. Não era Eu. Não tenho nada a te oferecer. Amor, bobagem inventada pelos românticos.
            Diante de tais assertivas, poderia eu lastimar assim como “Jó” o dia em que lhe conheci? Não, esta é a resposta. Pois, foram seus olhos que fizeram com que eu acreditasse na possibilidade da eternidade. Mesmo sabendo que Charlotte era desposada por outro cavalheiro, Werther continuava dia após dia está com Ela, e querer sua presença, pois, o amor tem disso, necessita de presença, de cheiro, de cores, dos sorrisos e das lágrimas. O amor tem necessidade simples como nos lembra Drummond.
            Assim como Werther levou o amor até as últimas consequências, eu também necessito. É preciso morrer. Aqui assumo minha condição de morto. Posso lhe afirmar que morrer não é fácil, mas, a decisão tinha que ser tomada e com certa urgência.
            Talvez minha morte sedenta por ressureição tesa a pergunta, nascerá algo desse “monturo”, de cinzas? Quem sabe, Sta. Tereza usa uma metáfora para falar dos níveis de contemplação da alma, em seus “Castelos Interiores” a figura do castelo e seus aposentos, eu usarei como metáfora a cidade e suas esquinas, quem não nos esbarramos em uma delas, em um outro tempo, e outros sentimentos. Não serão os mesmos olhos e nem mesmo a eternidade exista, e virarei os olhos para não te ver, “é desconcertante rever o grande amor”, olhar nos olhos é de um perigo mortal. Ou...
            Não tenho habilidade para com a palavra, escrita ou não, mas como a vida exige que ponhamos ponto final, estou aqui para dizer Adeus. Estou partindo, com a consciência de que não deixo nada com você, e não quero fazer soma do que levo. No final diferente do inicio não há reticências.
“Posso escrever os versos mais tristes essa noite”

*Perdão pelos erros ortográficos
** Como Ilustração Pablo Nerruda
*** Indicação de Leitura, Os Sofrimentos do Jovem Werther, Castelos Interiores ou Moradas   

***Foto meramente ilustrativa e encontrada livremente na internet